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Opinião: Alemanha de A a Z por Angela Merkel

Ines Pohl
Ines Pohl
22 de junho de 2017

O que é alemão? A chefe de governo se propôs a responder a tão debatida e controversa questão na forma de um alfabeto, publicado pelo maior tabloide do país. Uma lista pertinente, opina a editora-chefe da DW, Ines Pohl.

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Angela Merkel
Com Merkel, o país voltou a ser figura de peso no palco da política internacional, escreve Ines PohlFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

No momento, nenhum outro político se encontra sob a pressão de uma expectativa tão grande quanto a chanceler federal da Alemanha. Desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, Angela Merkel passou a ser, para muitos, a última voz da razão, a guardiã do mundo ocidental. Não menos importante: a última instância capaz de impedir a desintegração da União Europeia.

Com Merkel, o país voltou a ser figura de peso no palco da política internacional: o mundo volta os olhos para a Alemanha. Com essa nova responsabilidade, o novo significado e consequente incremento de poder, cresceram, obviamente, também os medos.

Cada vez se formula com mais veemência a velha apreensão de que a Alemanha se aproveite descaradamente, e para interesse próprio, de sua dominância. De repente, o dilema histórico voltou a ser atual: a Alemanha é pequena e fraca demais para, sozinha, ser o motor que manterá a Europa em movimento. Mas também é forte demais para ser apenas um país entre tantos.

Ines Pohl é editora-chefe da DW
Ines Pohl é editora-chefe da DW

Além dessa perspectiva externa sobre nosso país, existe também, é claro, o discurso em nível nacional. O que quer dizer, mesmo, esse "ser alemão" no ano 2017? Antes até da crise migratória, cidadãs e cidadãos discutiam o que mantém coeso o seu país; qual religião é marcante; como o islã transforma a Alemanha; como os muitos refugiados que procuram aqui uma nova pátria afetarão a identidade do país, no médio e longo prazo.

Em meio a essa discussão complexa, carregada e incômoda, e a menos de 100 dias das eleições gerais, a premiê desponta com uma proposta quase lúdica: com o "Alfabeto da Alemanha", publicado pelo Bild, o tabloide de maior circulação no país, Merkel fornece suas definições, convidando leitoras e leitores a embarcar no debate. Sem dúvida: não há maneira mais genial de abordar a temática!

Quem, além dela, seria capaz de celebrar, já no primeiro verbete, o Artigo 1º da Lei Fundamental da Alemanha – "A dignidade humana é inviolável" – deixando claro, desde o início, sobre que alicerce inabalável o país se ergue? Para então, pouco depois, propor como componentes definidores coisas perfeitamente profanas, como "dupla formação profissional" e "vidros duplos nas janelas".

Ela cita num só fôlego "edredom de plumas" e "federalismo", "Holocausto – permanente responsabilidade alemã" e "integração". "Batata" vem seguida de "torre de igreja", mas "made in Germany" também vem acompanhado de "muçulmanos", é claro.

Quem ache que esse alfabeto merkeliano seja arbitrário, se engana redondamente. Pelo menos para mim, como alemã que deseja uma Alemanha que – com toda sua fundamentação na tradição, cultura e história – seja aberta para o mundo, os princípios mais essenciais me parecem cuidadosamente compostos.

"Curiosidade" não falta, nem "proteção ambiental" e "diversidade". "Liberdade de imprensa" é um componente tão sólido de nosso país quanto "colher cogumelos" e "pontualidade". E, naturalmente, também aqui a esperta política deixa uma portinha aberta, com "coragem de deixar lacunas" – que nessa compilação ela reivindica explicitamente para si.

Desse modo, o alfabeto é mais do que um jogo mental divertido: ele é uma declaração governamental à moda de Merkel. Inflexível em certos princípios – como no compromisso com a liberdade religiosa –, porém aberto na seleção geral de tal maneira que o maior número possível de pessoas se identifiquem com ele.

Ines Pohl
Ines Pohl Chefe da sucursal da DW em Washington.@inespohl