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Opinião: É preciso bloquear Mediterrâneo como rota de fuga

4 de julho de 2017

Itália apela aos demais países da UE para que acolham uma parcela dos refugiados chegados pelo mar ao sul do país. A reivindicação é justa, mas não resolve o problema, opina o jornalista Christoph Hasselbach.

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Barco com refugiados no Mar Mediterrâneo
Refugiados aguardam resgate no Mar Mediterrâneo, diante da costa da LíbiaFoto: Getty Images/AFP/A. Solaro

Quem exige que os refugiados sejam distribuídos de forma justa por todos os Estados-membros da União Europeia pode contar com o respaldo do mainstream político na Alemanha, inclusive da chanceler federal Angela Merkel. Ao mesmo tempo, estaria agravando ainda mais os problemas, pois assim o fluxo migratório da África para a Europa só aumentaria.

No momento, praticamente nenhum africano que consiga chegar ao Velho Continente é repatriado, mesmo não tendo direito a asilo. O fato é que os países de origem não colaboram nem mesmo com as autoridades locais, por não ter o menor interesse em receber de volta seus cidadãos. E em algum momento o status de tolerado se transforma em visto de permanência. Só que essa não é a ideia das leis de asilo.

Christoph Hasselbach é jornalista da DW
Christoph Hasselbach é jornalista da DW

Na realidade, contudo, quem de algum modo chegou até a Europa – não importa de onde venha ou por que motivo – tem boas chances de poder permanecer e desfrutar de todos os benefícios que este rico continente tem a oferecer.

Isso torna condenável a evasão do país natal? Claro que não. É inteiramente compreensível alguém partir para a Europa, mesmo que "só" queira escapar da miséria econômica. Mas só compaixão não pode ser a base para ações políticas.

Basta ter em mente algumas cifras e projetar a progressão da migração algumas décadas mais adiante. E também, de forma bem atual, considerar as palavras da ministra da População do Níger, Rakiatou Kaffa-Jackou, por ocasião do encontro de cúpula da União Africana: "A meta não é restringir a taxa de natalidade" – a qual, em seu país, ultrapassa os sete filhos para cada mulher.

Segundo prognósticos da ONU, até o fim do século, a população africana, já hoje quase sem perspectivas econômicas, deverá quadruplicar, alcançando cerca de 4,5 bilhões. Comparando: a União Europeia tem cerca de 500 milhões de habitantes, e a tendência é decrescente.

No auge da atual crise migratória, a Alemanha acolheu mais de 1 milhão de migrantes, outros Estados da UE receberam várias centenas de milhares. Diante da crescente pressão demográfica na África, isso parece quase nada. Entretanto, nesse meio tempo, a xenofobia na Europa aumentou enormemente, partidos de direita ganharam força por toda parte. No momento, parece haver uma estagnação, mas só porque o grande movimento migratório de 2015-16 retrocedeu.

No entanto, a migração descontrolada prossegue e volta a crescer, desta vez pelo Mar Mediterrâneo. Se dependesse das organizações humanitárias, suas "operações de resgate" (na verdade, não se trata de resgate, no sentido usual do termo, mas sim de parte integrante da atividade de tráfico humano) seriam consideravelmente mais amplas. Caso ocorresse uma distribuição sem problemas dos refugiados por toda a Europa, se esvaziaria a pressão de se refletir sobre o futuro dessa dinâmica.

Alguém está levando em consideração o que uma nova e bem maior imigração em massa descontrolada significaria, em termos de radicalização política e tensões sociais na Europa? Há quem reflita sobre o que ainda sobraria de uma União Europeia já incuravelmente dividida em torno dessa questão?

Até mesmo Merkel prometeu que 2015 não pode e não vai se repetir. Fica a questão de como ela pretende garantir isso, se ao mesmo tempo rejeita toda forma de restrição do afluxo?

A Europa precisa reconquistar a iniciativa nessa questão. Ela não pode relegar aos atravessadores a decisão de quem pode viver em seu território. Por isso, os migrantes recolhidos no Mediterrâneo não podem mais ser automaticamente trazidos para a Europa. Quando o Mediterrâneo estiver bloqueado como rota de fuga em massa, aí – mas só aí – se poderá conversar sobre uma distribuição justa dentro da UE.