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Emigrar para além do Atlântico, uma aventura

mw21 de maio de 2004

Mudar-se para o Brasil no século 19 envolvia muitas dificuldades. DW-WORLD escolheu a história de duas famílias alemãs para retratar as agruras de atravessar o Atlântico e estabelecer-se na nova pátria.

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Descendentes de Adam e Jacob em Santo Cristo (RS)Foto: Benno Sander

Incentivados pela política do imperador dom Pedro I de trazer imigrantes europeus para colonizar e assegurar a posse do território brasileiro, os primeiros alemães chegaram à então província de São Pedro do Rio Grande em 25 de julho de 1824. O grupo de 39 pessoas havia deixado para trás sua terra natal em busca do sonho de uma vida melhor na distante América do Sul. O primeiro núcleo germânico no Brasil nasceu às margens do Rio dos Sinos, atual município de São Leopoldo, a apenas 30 quilômetros de Porto Alegre.

Três anos depois, começava a saga dos quatro irmãos Sander, do lugarejo de Bedesbach, perto de Kaiserslautern. Filhos de família numerosa, August, Adam, Jacob e um quarto irmão – cujo nome perdeu-se na memória das gerações seguintes – teriam embarcado em 1827 no porto de Hamburgo.

Não emigraram sós. Aos 35 anos, Adam mudou-se com a esposa Catarina e quatro filhos, enquanto Jacob, de 23, viajou acompanhado da mulher (também Catarina) e a sogra, então separada do marido. August, de 37, era solteiro. Estes três tiveram São Leopoldo como destino, enquanto o quarto irmão optou por ficar no Rio de Janeiro e servir como soldado no batalhão de estrangeiros do imperador dom Pedro I.

Tempestade quase acabou com o sonho

A travessia do Atlântico em veleiros naquela época não era sem riscos, o que os Sander logo comprovaram a bordo do navio Cecília. Ainda no Canal da Mancha, uma tempestade avariou a embarcação de tal modo que a tripulação decidiu abandoná-la, deixando os passageiros à mercê do destino. Um navio inglês, entretanto, surgiu e socorreu o veleiro, rebocando-o para Plymouth.

A escala forçada na Inglaterra durou mais de um ano. Enquanto esperavam, Jacob e Catarina tiveram um filho. Por interferência da imperatriz brasileira Amélia von Leuchtenberg, o grupo de imigrantes do qual os Sander fazia parte pôde retomar sua aventura marítima em outro navio. No começo de 1829, eles desembarcavam enfim no Rio de Janeiro.

Rumos diferentes na nova terra

Enquanto um dos irmãos decidia permanecer na capital do império brasileiro, o solteiro August tomava a frente e a 7 de março alcançava São Leopoldo, onde se casaria com uma brasileira. Depois, seguiu adiante para a fronteira cisplatina, junto ao Rio Uruguai. Já Adam e sua família chegaram a São Leopoldo em 14 de maio. Dez dias depois, foi a vez de Jacob e família. Com seus nomes abrasileirados para Adão e Jacó, os novos imigrantes instalaram-se em Dois Irmãos, nas proximidades de São Leopoldo.

Jacó revelou-se grande empreendedor, adquiriu muitas terras, participou da fundação do município de Três Coroas, construiu a primeira estrada de rodagem da região e a estação de trem hoje conhecida como Estação Sander na raiz da serra gaúcha. Já Adão dedicou-se à agricultura familiar e ao ensino. Ambos tiveram famílias numerosas, e seus descendentes espalharam-se pelo Brasil, do Rio Grande do Sul à Bahia e ao Mato Grosso.