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Angola: Garimpo continua a matar na Lunda Norte

Borralho Ndomba | Lusa
30 de abril de 2019

Ativistas angolanos ouvidos pela DW afirmam que, devido à pobreza extrema da população, os assassinatos de garimpeiros vão continuar a existir naquela região.

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Angola | gewaltsamer Polizeieinsatz während einer Demonstration des Lunda Tchokwe Protectorate Movement
Foto: Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe

A exploração ilegal de diamantes continua a causar mortes de vários cidadãos que fazem do garimpo o único meio de sustento na província angolana da Lunda Norte, no nordeste do país.

Na madrugada de sábado, 27 de abril, um garimpeiro foi assassinado na localidade da Calonda, no município do Lucapa, depois de ser encontrado na zona de garimpo. Segundo a delegação provincial do Ministério do Interior, outra pessoa morreu e três ficaram feridas num tumulto que se seguiu.

Angola: Garimpo continua a matar na Lunda Norte

O garimpeiro terá sido alvejado um agente de uma empresa de segurança privada, por alegadamente ter invadido um espaço restrito. E alguns habitantes terão tentado fazer justiça pelas próprias mãos, tendo a polícia sido chamada a intervir.

Da ação policial para a dispersão dos populares, segundo o comunicado do Ministério do Interior, resultou a morte de um menor de 10 anos, "vítima de uma bala perdida a cerca de 150 metros do local da arruaça e dois feridos ligeiros".

"Destruição de viaturas, do imóvel do comandante da polícia local, das instalações do comité comunal do MPLA, partido no poder em Angola, e fogo posto aos escritórios da empresa de segurança privada DSL foram alguns dos resultados da arruaça dos populares", lê-se ainda no documento. Mas "neste momento, a situação está calma e controlada, na medida em que foram detidos cerca de 40 cidadãos por desacato às autoridades policiais, bem como o agente da empresa de segurança", que está "sob custódia do Serviço de Investigação Criminal (SIC) ".

Angola Luanda José Mateus Zecamutchima
Presidente do Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe, José Mateus ZecamutchimaFoto: DW/N. Sul d'Angola

Versão diferente: não 2, mas 3 mortos

Em declarações à DW, o presidente do Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe, José Mateus Zecamutchima, apresenta uma versão diferente das autoridades. De acordo com o ativista, que defende a autonomia das Lundas, o conflito casou a morte de outra pessoa.

"No total, são três mortos", diz Zecamutchima. 

"Ontem [domingo] de manhã, depois de a polícia ter removido o corpo, a população revoltou-se, porque se apercebeu que um dos responsáveis da empresa de segurança se escondeu na esquadra para que não fosse agredido. Foi assim que a população invadiu a esquadra; tentou a casa do próprio comandante e também o hospital. A polícia, ao tentar impor a ordem, começou também a disparar contra a população. Ontem faleceu uma menina de dez anos, e entre os três feridos que foram levados para o hospital, um rapaz chamado Paizinho acabou por falecer hoje [29.04]", afirmou.

Segundo o ativista dos direitos humanos Jordan Mwakambinza, que ouviu o relato de outros garimpeiros, o garimpeiro assassinado pelo agente de uma empresa de segurança privada teria pago para trabalhar ali, mas no local estavam outros seguranças, que não teriam conhecimento do alegado pagamento.

Angola Arbeitslose in Dundo
Desemprego leva muitos jovens para o garimpo de diamantesFoto: DW/B. Ndomba

Garimpo "vai continuar" devido a pobreza

Para o presidente do Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe, o incidente na Calonda é uma das consequências da chamada "Operação Transparência", que já repatriou mais de 400 mil estrangeiros ilegais que trabalhavam nas zonas de exploração diamantífera.

"Lamentavelmente, os próprios garimpeiros garantem que pagam aos polícias para poderem explorar. Mas, quando começam a garimpar, polícias e efetivos das Forças Armadas obrigam os garimpeiros a dividir com eles o 'cascalho' [areia e pedras]. Dividem. Mas depois, a mesma polícia, os mesmos comandos, dão a volta, fazem disparos para que os garimpeiros larguem o resto do 'cascalho', para eles, os militares, lavarem e encontrarem os diamantes", denuncia Zecamutchima.

Segundo Jordan Mwakambinza, é a pobreza que faz com que os populares, na sua maioria jovens, aceitem propostas de estrangeiros para irem explorar diamantes na calada da noite. Por isso, o ativista entende que só a criação de mais postos de trabalho poderá desincentivar o garimpo nas Lundas.

"As empresas que temos aqui não têm capacidades de empregar mais de dois mil cidadãos. Alguns entram e em poucos dias são escorraçados. É a fome que faz com que muitos jovens se dediquem ao garimpo", conclui Mwakambinza.

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