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Cientistas acham plástico em órgãos humanos

17 de agosto de 2020

Em descoberta inédita, pesquisadores americanos detectaram micropartículas plásticas em todas as 47 amostras de tecidos examinadas, de pulmão, fígado, baço e rins. Efeitos na saúde das pessoas ainda são pouco conhecidos.

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Pessoa bebendo água em garrafa plástica com sol ao fundo
Usados em recipientes para comidas e bebidas, plásticos comprovadamente entram no trato intestinalFoto: imago images/Sven Simon

Cientistas americanos detectaram pela primeira vez microplásticos e nanoplásticos em órgãos e tecidos humanos, de acordo com um estudo a se apresentado nesta segunda-feira (17/08) no congresso virtual de outono da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês).

Pesquisadores da Universidade do Arizona, nos EUA, encontraram o material em todas as 47 amostras de pulmões, fígado, fígado, baço e rins que examinaram. Eles consideram a descoberta preocupante, ainda que falte informação sobre os efeitos dessas partículas para a saúde humana.

Eles obtiveram as mostras de um banco de tecidos criado para estudar doenças neurodegenerativas. O método analítico que desenvolveram permitiu que eles identificassem dezenas de tipos de plástico nos tecidos humanos, incluindo policarbonato (PC), tereftalato de polietileno (PET), usado em garrafas plásticas, e polietileno (PE), usado para sacos plásticos.

Já o bisfenol A (BPA), o composto utilizado na fabricação de plástico e que ainda é usado em recipientes para alimentos, apesar das preocupações com os danos que causa à saúde, foi encontrado em todas as 47 amostras.

Pesquisas em animais têm associado a exposição a microplásticos e nanoplásticos a infertilidade, inflamações e câncer, mas os resultados para a saúde de pessoas ainda são pouco conhecidos.

A ACS lembra, num documento sobre a investigação, que a ingestão de partículas de plástico por animais e seres humanos tem consequências ainda desconhecidas para a saúde.

"Pode encontrar-se plástico contaminando o ambiente em praticamente todos os locais do globo, e em poucas décadas deixamos de ver o plástico como algo muito benéfico para o considerarmos uma ameaça", diz Charles Rolsky também autor do estudo.

"Há provas de que o plástico está entrando no nosso corpo, mas muito poucos estudos o procuram nele. E neste momento não sabemos se este plástico é apenas um incômodo ou se representa um perigo para a saúde humana", adiantou o pesquisador.  

Vários estudos já mostraram como os microplásticos podem entrar na cadeia alimentar humana. No ano retrasado, uma pesquisa revelou que esse material foi encontrado em quase todas as marcas de água engarrafada. Também naquele mesmo ano, cientistas encontraram o material em fezes humanas.

"Nunca queremos ser alarmistas, mas é preocupante que estes materiales não biodegradáveis presentes em todos os lugares possam entrar e acumular-se nos tecidos humanos, porque não conhecemos os possíveis efeitos sobre a saúde", adverte Varun Kelkar, outro autor do estudo.

"Assim que tivermos uma ideia melhor do que está nos tecidos, podemos realizar estudos epidemiológicos para avaliar os resultados de saúde humana", disse ele. "Dessa forma, podemos começar a entender os riscos potenciais à saúde, se existirem."

Os cientistas definem microplástico como um fragmento de plástico com menos de cinco milímetros de diâmetro. Os nanoplásticos são ainda menores, com diâmetros inferiores a 0,001 milímetro.

Estudos já mostraram que os plásticos podem passar através do trato intestinal dos humanos, mas os dois investigadores se debruçaram em descobrir se há partículas que se acumulam nos órgãos humanos.

Os investigadores acreditam que o estudo é o primeiro que examina a existência de partículas de plástico em órgãos de pessoas com um histórico conhecido de exposição ambiental.

Os doadores de tecidos forneceram informações detalhadas sobre o seu estilo de vida, dieta e exposições ocupacionais, o que pode ajudar a encontrar potenciais fontes e vias de exposição a micro e nanoplásticos, dizem os cientistas.

MD/lusa/efe

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