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O que se sabe sobre a origem do novo coronavírus?

28 de maio de 2021

Tese do acidente de laboratório na China volta a ganhar espaço depois de uma reportagem nos EUA, e Biden ordena investigação ampla sobre origem da pandemia. Veja o que já se sabe sobre o Sars-Cov-2.

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O novo coronavirus em 3D
Foto: Peter Mindek/Nanographics/apa/dpa/picture alliance

Comprovadamente, até agora, foram infectadas quase 170 milhões de pessoas em todo o mundo com o Sars-Cov-2, o vírus causador da covid-19. Destas, mais de 3,4 milhões acabaram morrendo com o coronavírus ou em decorrência dele. Mas como surgiu esse patógeno altamente contagioso, que paralisou economias do mundo inteiro e destruiu incontáveis ​​meios de subsistência? Até o momento, há mais especulações do que fatos sobre a origem da pandemia global.

Recentemente, o jornal The Wall Street Journal publicou uma reportagem sobre um possível acidente no Instituto de Virologia de Wuhan, na China, citando um relatório do serviço secreto americano. De acordo com o documento, em novembro de 2019, três funcionários do instituto que apresentavam sintomas semelhantes aos da covid-19 ficaram tão doentes que se dirigiram a um hospital.

China | Sicherheitsbeamter am Wuhan Institut of Virology
Foto: Koki Kataoka/AP/picture alliance

Mas para ir além das especulações, o presidente dos EUA, Joe Biden, determinou que dados confiáveis sobre a origem do vírus, incluindo a verificação da possibilidade de um eventual acidente de laboratório na China, sejam coletados pela inteligência americana e apresentados a ele em 90 dias.

"Os Estados Unidos continuarão a trabalhar com os seus parceiros em todo o mundo para pressionar a China a participar de uma investigação internacional completa, transparente e fundamentada em provas", disse o presidente.

Pequim acusou os EUA de politizar a investigação e de querer culpar a China pela pandemia. Ao mesmo tempo, o país onde o vírus foi pela primeira vez detectato tem bloqueado uma investigação transparente e rejeita categoricamente qualquer responsabilização pelo caso.

O que se sabe sobre o vírus?

Em janeiro de 2020, cientistas chineses descobriram a causa de um surto de uma infecção pulmonar até então desconhecida que havia vitimado um número surpreendente de pessoas na cidade de Wuhan. Nas vias aéreas dos pacientes foram encontrados genes de um vírus de RNA de sentido positivo, pertencente à família dos coronavírus e que foi classificado no subgrupo B (beta coronavírus).

O vírus era definitivamente completamente novo, mas era muito semelhante ao Sars-CoV, que desencadeou a pandemia de Sars entre 2002 e 2004. A partir do sul da China, em poucas semanas aquele vírus já havia se espalhado por quase todos os continentes. Está comprovado que 8.096 pessoas em todo o mundo adoeceram com síndrome respiratória aguda grave (Sars), com 774 das infecções tendo levado à morte.

Ainda que o número de casos seja baixo em comparação com a atual pandemia, já então ficou claro como uma doença altamente infecciosa pode se espalhar em um mundo globalizado com enorme rapidez.

Onde o vírus foi descoberto?

Alguns estudos sugerem que o vírus já se espalhava havia semanas ou até meses antes de ser descoberto em Wuhan, no fim de dezembro de 2019.

Na China, segundo o jornal South China Morning Post, uma primeira infecção com Sars-Cov-2 teria sido comprovada em meados de novembro. Mas isso não quer dizer necessariamente que ele surgiu na China.

Em abril de 2020, pesquisadores da Universidade de Cambridge publicaram um estudo segundo o qual a pandemia provavelmente teve início entre setembro e início de dezembro de 2019 – na China ou em um país vizinho.

No entanto, traços do novo patógeno também foram encontrados em amostras de redes de esgoto na Itália e no Brasil coletadas em dezembro e novembro de 2019, respectivamente. Na Itália, também foram encontrados anticorpos contra o Sars-Cov-2 em amostras de sangue de participantes de exames de rastreamento de câncer de pulmão. As amostras haviam sido coletadas em setembro de 2019 e fevereiro de 2020.

Mas o fato de o vírus ter sido detectado na Europa no segundo semestre de 2019 e na China em meados de novembro do mesmo ano não permite tirar conclusões confiáveis ​​sobre a origem da pandemia. Isso apenas mostra a rapidez com que um vírus altamente agressivo pode se espalhar pelo mundo.

O vírus tem origem animal?

O cenário mais provável é de uma origem zoológica através de um hospedeiro intermediário. Neste caso, algum animal infectado com o vírus original o teria transmitido para outro. Até agora, no entanto, nem o animal original em potencial nem o hospedeiro intermediário foram identificados de forma categórica. Os dois coronavírus Sars tampouco puderam ser constatados de forma inequívoca no reino animal.

Ambos os Sars, porém, estão definitivamente relacionados a coronavírus encontrados em certas espécies de morcegos do sudeste asiático. A sequência genética do atual Sars-Cov-2 equivale 96,2% à do coronavírus RaTG13, encontrado em um morcego-ferradura.

Vison
Entre os possíveis hospedeiros intermediários do Sars-Cov-2 está o visonFoto: M. Woike/blickwinkel/picture alliance

Pode parecer muito, mas se trata apenas de uma primeira pista. Afinal, uma comparação com um coronavírus detectado em pangolins, por exemplo, também constatou uma correspondência semelhante.

Como a maioria das pessoas não tem contato direto com morcegos-ferradura ou pangolins, especialistas também estão investigando potenciais hospedeiros intermediários que costumam viver em contato mais próximo com humanos, como visons, martas e mamíferos pertencentes à família Viverridae. O vison, por exemplo, pode ser facilmente infectado com Sars-Cov-2 presente em humanos. Teoricamente, uma transmissão de animais para o homem é menos provável, mas ainda assim possível.

O vírus vem de um laboratório?

Comprovadamente foram realizados experimentos no Instituto de Virologia de Wuhan com os coronavírus RaTG13 e RmYN02, cuja sequência genética corresponde 93,3% à sequência do Sars-Cov-2. A partir daí surgiram dois cenários: o Sars-Covd-2 teria sido criado artificialmente, como uma espécie de arma biológica, ou inadvertidamente disseminado como resultado de um acidente científico.

Especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde) enviados à China veem ambos os cenários como "extremamente improváveis". Mas essa afirmação não convenceu todo mundo. Em suas investigações, muito limitadas, eles não puderam realizar inspeções ou recolher provas, pois a China não permitiu.

Membros da equipe de investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) enviados à Wuhan deixam hotel em um ônibus depois de ficarem em quarentena por duas semanas.
Especialistas da OMS deixam hotel em Wuhan depois de ficarem em quarentena por duas semanasFoto: kyodo/dpa/picture alliance

Em vez disso, eles tiveram que confiar nos dados publicamente disponíveis e nas informações fornecidas pelos chineses. Após o retorno dos especialistas, até mesmo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que ao menos a hipótese de um acidente de laboratório em Wuhan deveria ser verificada mais a fundo.

Quais são os indícios de uma "arma biológica"?

A maioria dos especialistas considera muito improvável a teoria da criação artificial do Sars-Cov-2 em um laboratório de pesquisa em Wuhan. Uma equipe liderada pelo microbiólogo sueco Kristian Andersen, do Scripps Research Institute, em La Jolla, Califórnia, examinou sobretudo as típicas proteínas Spike encontradas na superfície do vírus, por meio das quais ele se ancora e penetra numa célula hospedeira nos pulmões ou na garganta.

O sequenciamento genético revelou duas diferenças significativas entre o Sars-Cov-2 e os outros coronavírus. Tanto a estruturação da proteína quanto a composição dos aminoácidos se dão de maneira distinta. Isso de fato facilita o ataque do vírus às células humanas, mas não a ponto de poder ser considerada uma arma biológica. Para isso, a equipe de La Jolla acredita que a estrutura do novo coronavírus não é sofisticada o suficiente.

Quais são os indícios de um acidente de laboratório?

Resta a teoria de que o Sars-Cov-2 é produto de um acidente de pesquisadores chineses que faziam experimentos com perigosos coronavírus, como o RaTG13 e o RmYN02. Tal hipótese é categoricamente rejeitada pelo governo chinês.

Os especialistas da OMS enviados à China também classificam a teoria do acidente como "extremamente improvável" – com base nos dados disponíveis. A evolução do vírus contraria esse argumento, afirmam. Além disso, segundo os especialistas da OMS, o Instituto de Virologia de Wuhan dispõe de laboratórios de alta segurança. Por último, nas informações repassadas aos especialistas tampouco há indícios de acidentes laboratoriais ou doenças suspeitas entre os funcionários.

Pelo menos neste ponto algo não bate, conforme o relatório de Inteligência dos EUA citado pelo Wall Street Journal. Segundo ele, em novembro de 2019, três funcionários do instituto com sintomas semelhantes aos da covid-19 teriam ficado tão doentes que se dirigiram a um hospital. A China nega também essa afirmação.

Suposições em vez de fatos, refutações em vez de transparência – é por isso que alguns especialistas afirmam que talvez jamais vai se saber a origem da pandemia de Sars-Cov-2. E, sem isso, ensinamentos sobre como conter outras pandemias ameaçadoras.