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Putin critica Ocidente e suspende tratado nuclear

Publicado 21 de fevereiro de 2023Última atualização 21 de fevereiro de 2023

Em discurso sobre o Estado da Nação, presidente russo culpa Kiev e seus aliados ocidentais pela guerra na Ucrânia e suspende participação da Rússia em pacto com EUA para controle de armas nucleares.

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Putin durante discurso sobre Estado da nação
Putin discursou para plateia composta por elite política e militar russaFoto: Sergei Karpukhin/TASS/IMAGO

O presidente russo, Vladimir Putin, prometeu nesta terça-feira (21/02) seguir adiante com a guerra na Ucrânia, que completa um ano em 24 de fevereiro, culpou o Ocidente pelo conflito e anunciou a suspensão da participação do país no tratado de desarmamento nuclear New Start.

Em seu aguardado discurso sobre o estado da nação, Putin ressaltou que a Rússia não está se retirando do tratado, mas a suspensão por ele anunciada ameaça o último pacto remanescente de controle de armas firmado entre os Estados Unidos e a Rússia.

O presidente afirmou que a companhia russa de energia nuclear Rosatom precisa garantir que o país esteja pronto para testar uma arma nuclear, se necessário. "É claro que não seremos os primeiros a fazê-lo. Mas se os Estados Unidos testarem, nos também o faremos", ameaçou.

O New Start foi assinado em 2010, entrou em vigor no ano seguinte e, em 2021, logo após Joe Biden assumir a presidência dos EUA, foi estendido por mais cinco anos. 

No tratado, Moscou e Washington se comprometeram a reduzir a 1.550 o número de suas ogivas nucleares; e o dos sistemas de lançamento – como mísseis intercontinentais, mísseis instalados em submarinos e aviões bombardeiros – a 800, no máximo. Para garantir isso, o acordo permitia a cada parte realizar até 20 inspeções por ano no país cossignatário.

Analistas afirmam que o anúncio da Rússia significa que será mais difícil verificar o cumprimento do acordado. "A suspensão do tratado não é o mesmo que se retirar dele, acredito que não haverá um incremento por parte da Rússia além dos limites do pacto. Mas haverá muito menos oportunidades para verificar isso", afirmou Andrey Baklitskiy, do Instituto das Nações Unidas para Pesquisa em Desarmamento.

Segundo especialistas, a Rússia tem o maior estoque de ogivas nucleares do mundo, com cerca de 6 mil. Juntos Moscou e EUA possuem aproximadamente 90% das ogivas existentes – o suficiente para destruir o planeta várias vezes.

"O povo da Ucrânia se tornou refém"

Em seu discurso, Putin disse à elite política e militar do país que a Rússia fez tudo o que podia para evitar a guerra, mas que a Ucrânia, apoiada pelo Ocidente, planejava atacar a Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014.

"O povo da Ucrânia se tornou refém do regime em Kiev e seus senhores ocidentais, que ocuparam o país no sentido político, militar e econômico", disse Putin.

"As elites ocidentais estão tentando esconder seus objetivos de infligir uma derrota estratégica à Rússia. Eles pretendem transformar o conflito local numa confrontação global. É assim que entendemos e vamos reagir de acordo", prosseguiu.

"A responsabilidade pela eclosão do conflito ucraniano, pela escalada, pelo aumento do número de vítimas recai inteiramente sobre as elites ocidentais e, é claro, sobre o atual regime de Kiev", enfatizou.

Mais uma vez, o líder russo repetiu a narrativa de que um regime neonazista está no poder na Ucrânia e afirmou que a "operação militar especial", como Moscou chama a guerra, irá continuar. "Passo a passo, com cautela e consistência, vamos solucionar as tarefas diante de nós", declarou.

Moscou nunca cederá às tentativas do Ocidente de dividir a sociedade russa, disse, alegando que a maioria da população do país apoia a guerra.

Sem apresentar provas, Putin afirmou que o Ocidente esteve diretamente envolvido em ataques ucranianos a bases aéreas no território russo.

Aplaudido de pé

A guerra na Ucrânia é a maior aposta de um líder do Kremlin desde ao menos a queda da União Soviética, em 1991. As forças russas sofreram três grandes reveses nos campos de batalha desde o início do conflito, mas ainda controlam cerca de um quinto do país vizinho.

Ao falar sobre a anexação ilegal de quatro regiões ucranianas no ano passado, o presidente foi aplaudido de pé no centro de exposições Gostiny Dvor, a poucos metros do Kremlin.

Ele pediu ao público, que incluía legisladores, soldados, chefes de espionagem e presidentes de companhias estatais, que ficasse em pé para homenagear aqueles que perderam suas vidas no conflito.

Putin afirma que a Rússia se encontra numa batalha existencial contra o Ocidente, que, segundo o presidente, pretende roubar os recursos naturais russos. O Ocidente e a Ucrânia rejeitam tal narrativa, apontando que a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o leste não justifica a aventura imperialista da Rússia.

O presidente afirmou que derrotar a Rússia é impossível. "Que uma coisa fique clara a todos: quanto maior for o alcance do armamento fornecido à Ucrânia, mais nos veremos obrigados a afastar a ameaça de nossas fronteiras."

Promessas a militares russos

Putin anunciou ainda uma modernização das Forças Armadas do país. "O nível de equipamentos de força de dissuasão nuclear da Rússia com os sistemas mais recentes é agora de 91,3%. Levando em conta nossa experiência acumulada, precisamos alcançar esse nível de qualidade em todas as partes das forças armadas."

O presidente prometeu a militares que lutam na Ucrânia duas semanas de férias a cada seis meses e argumentou que cada combatente deve ter a oportunidade de visitar familiares e amigos. Ele também propôs a criação de um fundo para fornecer ajuda aos veteranos da guerra e às famílias de soldados mortos. 

No discurso, Putin minimizou o impacto das sanções aplicadas a Moscou pelo Ocidente em retaliação à invasão da Ucrânia e afirmou que a população ocidental sofreu mais com as consequências dessas punições.

Este foi o 18º discurso sobre o estado da nação proferido por Putin. O último havia sido em abril de 2021. O presidente afirmou que o tradicional discurso não ocorreu no ano passado devido à "dinâmica de acontecimentos".

lf/cn (Reuters, DPA, Efe, AP)