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ConflitosSudão

Combates continuam no Sudão e civis pedem ajuda

Isaac Mugabi | tm | DW (Deutsche Welle) | Lusa
21 de abril de 2023

Os confrontos entre o exército sudanês e os paramilitares já causaram pelo menos 330 mortos e 3.200 feridos. Faltam alimentos e água corrente. Líder do exército diz que militares estão empenhados em transição civil.

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Sudan | Menschen fliehen vor Unruhen in Khartoum
Foto: AFP/Getty Images

Tal como muitos sudaneses que estão escondidos nas suas casas, evitando abrir as janelas por medo de serem atingidos por balas, Mujtaba Musa leva o seu apelo às redes sociais e pede aos mais de 200 mil seguidores que "partilhem os seus pedidos de ajuda".

Desde que os combates eclodiram no Sudão, no passado sábado (15.04), com ataques aéreos e fogo de artilharia em áreas densamente povoadas, os civis vivem dias cada vez mais difíceis. Faltam alimentos e água corrente e há cortes de energia constantes.

"A situação é muito difícil. As condições de vida, os hospitais... é difícil em todos os sentidos. Não há transportes nem gasolina, pão e medicamentos. Não há nada!", conta Mohammed Ahmed Soliman, residente em Cartum.

Milhões de crianças em risco

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) já alertou que milhões de crianças sudanesas estão em risco devido aos confrontos entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF).

Sudão em pé de guerra civil

Segundo a ONU, os combates entre os rivais já causaram cerca de 300 mortes e 3200 feridos, mas este número pode ser superior, já que muitos corpos ainda não foram retirados das ruas.

O mais recente cessar-fogo anunciado para terça e quarta-feira falhou, como comprovam relatos de tiros feitos por residentes.

Na quinta-feira (20.04), o militar que governa o país, Abdel Fattah Al-Burhan,  declarou que "não havia lugar" para negociações com o opositor e comandante das RSF, Mohamed Hamdan Dagalo.

Como prioridade imediata, o  secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a um cessar-fogo, a partir desta sexta-feira (21.04), "de pelo menos três dias para assinalar as celebrações do Eid al-Fitr", que marcam o fim do mês sagrado do jejum e da oração na tradição muçulmana, o Ramadão, para permitir a saída de civis das zonas de conflito.

Confrontos armados já causaram pelo menos 330 mortos e 3.200 feridos
Confrontos armados já causaram pelo menos 330 mortos e 3.200 feridosFoto: AFP/Getty Images

Estudantes estrangeiros querem regressar

No caso de um cessar-fogo, o Quénia pretende evacuar todos os seus cidadãos que vivem no Sudão, incluindo 400 estudantes.

A Tanzânia tem pelo menos 210 cidadãos que não podem sair do país em conflito, dos quais 171 são estudantes. "Vamos continuar a analisar esta situação e se os combates pararem, pode não haver razão para os nossos cidadãos partirem".disse à DW Stergomena Lawrence Tax, ministra tanzaniana dos Negócios Estrangeiros.

Numa carta partilhada na rede social Twitter, estudantes nigerianos apelaram ao Governo, pedindo-lhe "a evacuação imediata dos estudantes [desse país] que estão no centro da guerra em curso", disse a Associação Nacional de Estudantes Nigerianos no Sudão (NANSS).

Os Estados Unidos da América (EUA) preparam-se para retirar, se for necessário, o pessoal da sua embaixada no Sudão.

O Presidente do Quénia, William Ruto, apelou ao fim dos combates, avisando que poderiam desestabilizar a região. "É tempo de silenciar as armas na nossa região e continente para que possamos concentrar-nos no trabalho urgente de permitir que o nosso povo persiga oportunidades e realize as suas aspirações em paz e tranquilidade. O tempo é essencial", disse o mediador.

"A situação é muito difícil!, queixam-se residentes que começaram a abandonar o país
"A situação é muito difícil!, queixam-se residentes que começaram a abandonar o paísFoto: EL TAYEB SIDDIG/REUTERS

Para quando a transição civil?

O chefe do exército e presidente do Conselho Soberano de Transição no Sudão, general Abdel Fattah al Burhan, afirmou hoje que os militares continuam empenhados numa transição para um governo civil.

"Estamos confiantes de que ultrapassaremos esta provação com a nossa formação, sabedoria e força, preservando a segurança e unidade do Estado, permitindo-nos que nos seja confiada a transição segura para um governo civil", afirmou o responsável, numa mensagem vídeo para assinalar o feriado do Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadão.

Além de ser o primeiro discurso desde que os brutais combates entre as suas forças e os paramilitares do país começaram, há quase uma semana, foi também a primeira vez que Al Burhan foi visto desde que a capital e outras áreas são palco de combates. Desconhece-se quando ou onde foi gravada a mensagem.

"A ruína e a destruição e o som de balas não deixaram lugar para a felicidade que todos merecem no nosso amado país", disse Al Burhan, no discurso.

Na quinta-feira (20.04), os militares do Sudão descartaram negociações com as forças rivais, dizendo que só aceitariam a rendição.