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Após ignorar Pfizer, Bolsonaro pede antecipação de doses

15 de junho de 2021

Segundo participantes de reunião, farmacêutica disse que vai se esforçar para adiantar entrega de doses de sua vacina. Empresa fez primeira oferta ao Brasil em agosto, mas contrato só foi fechado em março.

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Jair Bolsonaro de máscara
Bolsonaro teria pedido à Pfizer para antecipar para junho entregas previstas para o quarto trimestreFoto: Carolina Antunes/PR

O presidente Jair Bolsonaro pediu à farmacêutica americana Pfizer nesta segunda-feira (14/06) que antecipe a entrega de doses de sua vacina contra a covid-19 ao Brasil, segundo participantes de um encontro virtual entre o presidente, integrantes do governo e representantes da empresa ouvidos pela imprensa brasileira.

Bolsonaro procurou a Pfizer após levantar dúvidas sobre a eficácia do imunizante e após seu governo ignorar ofertas de doses feitas pela farmacêutica. À CPI da Pandemia, o gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, afirmou que foram ao menos cinco ofertas em 2020, enquanto a Folha de S. Paulo aponta que somente entre 14 de agosto e 12 de setembro, ao menos dez e-mails foram enviados pela farmacêutica cobrando uma reposta.

"Um dos assuntos [tratados na reunião] foi exatamente a possibilidade de antecipar as doses inicialmente contratadas. A gente tem o primeiro contrato de 100 milhões de doses, cujo cronograma estima até setembro receber a totalidade dessas doses. O que a gente pediu, entre outros assuntos, foi verificar a possibilidade de antecipar ao máximo as doses contratadas dentro deste primeiro contrato", afirmou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, citado pelo portal G1.

Segundo Cruz, os representantes da Pfizer afirmaram que, apesar da demanda elevada, vão se esforçar para atender o pedido de antecipação.

Cruz também afirmou que o governo federal avalia comprar mais doses do imunizante da farmacêutica, desenvolvido em parceria com a empresa alemã Biontech, para 2022.

Além de Bolsonaro, participaram da reunião virtual os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga; da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos; e das Relações Exteriores, Carlos França; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto; e o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, almirante Flavio Rocha. Carlos Murillo e Marta Díez, presidente da Pfizer no Brasil, representaram a farmacêutica.

À agência de notícias Reuters, um integrante do governo brasileiro disse que Bolsonaro pediu aos executivos da Pfizer se entregas previstas para o quarto trimestre deste ano poderiam ser antecipadas para junho. O braço da farmacêutica no Brasil não quis comentar sobre o encontro, segundo a Reuters.

"Virar jacaré"

A celeridade pedida agora pelo governo Bolsonaro contrasta com a demora em responder às ofertas iniciais feitas pela Pfizer, a partir de agosto do ano passado. Um contrato com a farmacêutica foi firmado apenas em março deste ano, para a compra de 100 milhões de doses.

Segundo o depoimento do presidente da Pfizer para a América Latina à CPI, a primeira oferta feita pela Pfizer, em 14 de agosto, propunha a compra de até 70 milhões de doses da vacina, com as primeiras 500 mil doses a serem entregues ainda em 2020.

Antes de fechar o contrato com a Pfizer, Bolsonaro chegou a dizer publicamente que tomar a vacina da empresa poderia transformar as pessoas em jacarés e, em várias ocasiões, criticou as condições do laboratório para a venda de seu imunizante.

"Lá, no contrato da Pfizer, está bem claro: nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu", disse o presidente em meados de dezembro.

Além de questionar diversas vezes a eficácia de vacinas contra a covid-19, Bolsonaro minimizou repetidamente a gravidade da doença, classificando-a de gripezinha, promoveu insistentemente o uso da cloroquina – medicamento antimalárico sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus –, e sabotou medidas de combate à pandemia. No último fim de semana, o presidente participou de um passeio de moto com apoiadores pelas ruas da capital paulista e foi multado por não usar máscara durante a manifestação.

A CPI da Pandemia, instalada no fim de abril pelo Senado, investiga o governo federal por ações e omissões do governo federal no enfrentamento da doença, incluindo as negociações com a Pfizer.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, 81 correspondências foram enviadas pela Pfizer ao governo Bolsonaro entre março do ano passado e abril deste ano, e cerca de 90% ficaram sem resposta.

Reunião após anúncio de Doria

A reunião desta segunda-feira com representantes da Pfizer ocorreu um dia depois de o governador de São Paulo, João Doria, adversário político de Bolsonaro, antecipar em 30 dias o cronograma de imunização contra a covid-19 no estado. Doria prometeu vacinar todos os adultos de São Paulo com ao menos uma dose até meados de setembro. O plano anunciado pelo Ministério da Saúde até agora prevê vacinar todos os adultos até o fim do ano.

Quase 500 mil brasileiros já morreram de covid-19, e mais de 17 milhões de infecções com o novo coronavírus foram confirmadas no país. Até agora, apenas 11,2% da população foi completamente vacinada, segundo levantamento da imprensa brasileira – sendo a maioria das doses aplicadas da Coronavac e da AstraZeneca.

As primeiras doses da vacina da Pfizer, que estudos apontam ter 95% de eficácia, chegaram ao Brasil somente no fim de abril e começaram a ser usadas no início de maio. Após as 100 milhões de doses acordadas em março, o governo fechou um segundo contrato em maio para o fornecimento de mais 100 milhões.

Para este mês, está prevista a entrega de 12 milhões de doses, e para julho, de 8 milhões. O imunizante é o único contra a covid-19 que já teve o registro definitivo aprovado pela Anvisa.

lf/as (Efe, Reuters, ots)