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Bachelet não quer se reeleger comissária de Direitos Humanos

13 de junho de 2022

Anúncio ocorre poucas semanas depois de Michelle Bachelet retornar de uma missão à China e receber críticas de ONGs e dos EUA por suposta falta de firmeza diante das violações dos direitos humanos por Pequim.

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Bachelet foi nomeada ao cargo de alta comissária dos Direitos Humanos da ONU por Guterres, em 2018Foto: Valentin Flauraud/KEYSTONE/picture alliance

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, anunciou nesta segunda-feira (13/06), em Genebra, que não buscará um segundo mandato para continuar a liderar o órgão. O anúncio põe fim a meses de especulação, e ela afirma que pretende passar mais tempo com sua família no Chile.

"Como meu mandato de alta comissária chega ao fim, a 50ª sessão do conselho será a última em que eu me expresso", disse a ex-presidente chilena, de 70 anos, ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra. Ela foi nomeada ao cargo por Guterres em 2018, e seu mandato termina no fim de agosto.

A especulação durou meses, com diplomatas contando à agência de notícias AFP que ela ainda não havia fornecido pistas sobre seus planos futuros. Mas Bachelet disse a repórteres que tinha percebido há meses que era hora de deixar o cargo e tinha avisado ao secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre sua decisão quando ela estava em Nova York, em abril.

"Isto não é algo novo", afirmou Bachelet, acrescentando que Guterres "queria que eu ficasse, mas [...] já não sou uma jovem e, depois de uma longa e rica carreira, quero voltar ao meu país, com minha família", explicou.

Pressão política

O cargo de alto comissário para os Direitos Humanos enfrenta fortes pressões políticas de muitos países ao redor do mundo. Apesar da possibilidade de dois mandatos, quase todos os antecessores de Bachelet evitaram permanecer mais de um mandato.

Mas havia especulações de que Bachelet, que evitou em grande parte proferir duras críticas públicas a países, poderia estar de olho num segundo mandato como alta comissária da ONU.

O estilo de Bachelet, baseado no diálogo, marcou uma clara ruptura com seu antecessor, o jordaniano Zeid Ra'ad Al Hussein, que se destacou no cargo por um tom crítico a governos e líderes de todo o mundo.

Bachelet, que foi vítima de tortura sob o ditador Augusto Pinochet e a primeira mulher a assumir a presidência do Chile, enfatizou, em vez disso, a importância do diálogo e da diplomacia discreta no encaminhamento dos direitos humanos em vários países.

"Continuem buscando o diálogo", afirmou ao conselho nesta segunda-feira. "É necessário estar preparado para ouvir o outro, compreender seus pontos de vista e trabalhar ativamente para encontrar pontos em comum."

Críticas de ONGs sobre tolerância com China

Recentemente, ela foi alvo de duras críticas por parte dos Estados Unidos e de ONGs, como Human Rights Watch e Anistia Internacional, que a acusaram de ter uma posição muito tolerante diante das violações dos direitos humanos na China.

Ela foi criticada por não ter denunciado com mais firmeza os abusos durante sua visita ao país asiático, a primeira de uma pessoa que ocupa seu cargo desde 2005.

"Isto não tem nada a ver com a decisão de não tentar um segundo mandato", disse Bachelet aos jornalistas. "Sempre escuto as críticas, mas não é isso que me faz adotar certas posições".

Bachelet afirmou nesta segunda-feira que vai compartilhar primeiro o relatório sobre a situação dos direitos humanos na região de Xinjiang – onde a China supostamente deteve mais de 1 milhão de uigures e outras minorias muçulmanas – com as autoridades chinesas, como acontece com todos os países, antes de sua publicação. 

Países e ONGs têm se tornado cada vez mais impacientes para ler o relatório, que dizem estar pronto há meses. "É importante que ela não deixe que esse processo se esgote em seu mandato e entregue o relatório a seu sucessor", afirmou Ken Roth, chefe da Human Rights Watch, nesta segunda-feira.

Roth advertiu que o foco de Bachelet em buscar o diálogo com o presidente chinês Xi Jinping "carece de pressão que por si só poderia persuadi-lo a aliviar sua repressão".

Ele instou Guterres a escolher "um sucessor que se sinta confortável em usar a ferramenta mais importante para melhorar as práticas de direitos humanos: a disposição de falar contra até mesmo os mais poderosos violadores de direitos humanos".

fc (afp, rtr, dpa)