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PolíticaBurundi

Aumenta a tensão entre Burundi e Ruanda

Wendy Bashi | Lusa
18 de janeiro de 2024

Depois de acusar o Ruanda de apoiar um grupo rebelde que efetuou ataques no seu território, o Burundi anunciou, a 11.01, o encerramento da fronteira com o país vizinho. Pelo menos 40 ruandeses estão detidos no Burundi.

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Evariste Ndayishimiye, Presidente do Burundi (à esquerda), e Paul Kagame, chefe de Estado do Ruanda (à direita)
Evariste Ndayishimiye, Presidente do Burundi, e Paul Kagame, chefe de Estado do Ruanda

O Governo do Burundi anunciou a 11 de janeiro o encerramento da fronteira com o Ruanda, país com o qual mantém há anos uma relação tensa devido a alegações de apoio a grupos armados que atuam no seu território.

Segundo as autoridades, o grupo Red-Tabara (Resistência ao Estado de Direito no Burundi) lançou um ataque a 22 de dezembro perto da fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), matando 20 pessoas, incluindo mulheres e crianças.

Em comunicado, o Ruanda lamentou "o encerramento unilateral da fronteira por parte do Burundi", acrescentando que "esta decisão infeliz irá restringir a livre circulação de pessoas e bens entre os dois países e violar os princípios da cooperação regional e da integração da Comunidade da África Oriental".

O Burundi já tinha fechado a fronteira com o seu vizinho ruandês em 2015, com os dois países a acusarem-se mutuamente de apoiar movimentos rebeldes. A fronteira foi reaberta em 2022.

Fotografia de arquivo tirada no lado ruandês da fronteira com o Burundi
Fotografia de arquivo tirada no lado ruandês da fronteira com o BurundiFoto: Stephanie Aglietti/AFP/Getty Images

Troca de acusações

As relações entre o Burundi e o Ruanda têm sido tumultuosas. Registou-se uma ligeira melhoria após a chegada ao poder de Evariste Ndayishimiye, em 2020, mas, desde então, os laços voltaram a ficar tensos quando o Burundi enviou tropas para ajudar a combater os rebeldes do M23 - apoiados por Kigali - no leste da RDC.

No final de dezembro passado, o Presidente Evariste Ndayishimiye acusou o Ruanda de apoiar os rebeldes, acusações que foram desmentidas por Kigali.

"As relações entre os dois países sempre tiveram altos e baixos", lembra Ariane Mukundete, especialista em media digital que acompanha de perto os acontecimentos na região dos Grandes Lagos.

Mukundete recorda que, em 2015, quando o Presidente Nkurunziza queria ser reeleito, houve um golpe de Estado abortado e os seus autores refugiaram-se no Ruanda. Desde então, o Burundi acusa o Ruanda de abrigar aqueles que querem desestabilizar o seu regime.

"Vejo também o que está a acontecer entre a RDC e o Ruanda. Chegou a altura de nos sentarmos e conversarmos", defende a especialista.

O Ruanda e o Burundi são países com o mesmo potencial económico. No entanto, enquanto o Ruanda está a fazer progressos económicos, o Burundi está a regredir devido a problemas de governação e de coesão interna.

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Bode expiatório?

Para o escritor burundiano David Gakunzi, que vive no exílio, em vez de admitir a responsabilidade, a liderança do Burundi tende frequentemente a fazer do Ruanda o bode expiatório.

"Se o Burundi persistir nesta atitude de procurar um bode expiatório externo para os seus problemas internos, é obviamente possível que a situação se degenere. Não estou a ver o Ruanda a ficar de braços cruzados se for atacado pelo Burundi."

O investigador congolês Josaphat Musamba salienta que a RDC e o Burundi partilham informações sobre questões de segurança. O jornalista sublinha que o grupo Tabara Vermelha sofreu várias mudanças na direção do seu comando. Parece haver uma nova versão baseada em Lulenge, no território de Fizi, no Kivu do Sul, muito longe da fronteira com o Burundi.

O perito interroga-se também sobre um novo ramo que atua na zona entre o Ruanda e o Burundi. "O comando das forças do Burundi está estacionado em Itombwe e Lulenge e há uma outra posição em Mikenge. Acho muito difícil as autoridades dizerem que os Tabara Vermelhos estão em todas estas áreas e que atravessaram todas estas colinas, os planaltos altos e médios, para irem efetuar ataques no Burundi", diz Musamba.